quando cito o termo pardais, eu me refiro
aos religiosos fundamentalistas, fanáticos que não respeitam a integridade do
próximo, porque são os primeiros a transgredir a liberdade proposta no
evangelho que deve sempre ocupar o coração das pessoas, como se não bastasse,
quando enfrentados, são agressivos, se julgam donos da verdade, gostam de ser
respeitados mas não respeitam ninguém, verdadeiros lobos famintos que devoram a
cultura de quem quer que seja, fiquei abismado com o depoimento do
cacique biraci, o bira [texto extraído da revista rolling stone, nº 63,
dezembro de 2011] que combateu a presença dos missionários em sua tribo
yawanawa [acre] no ano de 1986, expulsando-os, são crentes falsos. e não
acreditei mais. convenceram todo mundo a ser crente. botaram uma ameaça no
nosso coração, dizendo que sem essa religião todo mundo iria para o inferno,
que nós não teríamos salvação, não seríamos capaz de ser um povo feliz. que nós
vivíamos com o demônio. que nossos rituais e nossas crenças eram coisas do
demônio. eram racistas. não gostavam da gente, pareciam que tinham nojo de índio.
não deixavam índio andar no mesmo barco com eles. não deixavam comer junto. nos
tratavam mal. sem respeito. principalmente os americanos [estadunidenses]. eram
muito arrogantes. a gente sofria muito. a gente tinha vergonha de ser a gente.
a missão estava dizendo que a nossa cultura era coisa do demônio, nossa
ayahuasca, nossas cerimônias. nós éramos proibidos, através da intimidação, de
realizar nossos rituais. do lado da missão estavam os seringalistas,
seringueiros. se aliavam com todo mundo. e a igreja fazia a gente aceitar
ser dominado. além da evangelização, dessa descaracterização cultural do nosso
povo, ainda mantinham a presença dos não indígenas dentro da terra. faziam a
gente aceitar nossa condição de escravos.
como se não
bastasse, bira foi perseguido pela polícia federal com a acusação de fazer
parte de uma organização de esquerda, estes pardais não prestam mesmo, estão
por todos os lados, corra deles se você tem amor à vida, eles na verdade não
gostam de ninguém, são capazes de tudo, se escandalizam com qualquer coisa que
vá de encontro a eles.
atualmente,
bira é referência espiritual na aldeia e promove um dos maiores festivais
indígenas do brasil, o yawa, regado com muito rapé e ayahuasca, evidenciando
assim a espiritualidade yawanawa.
anibal werneck
de freitas.
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