domingo, 6 de janeiro de 2019

O DEUS DE SPINOSA


Mensagem de Baruch Spinosa - 1665

Este é o Deus de Spinosa
Se Deus tivesse falado, ele teria dito:
“Para de ficar rezando e de bater no peito!
O que eu quero é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que
gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Para de ir a certos templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e
que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas
praias e no coração das pessoas. Ali é onde eu, de fato, vivo e ali expresso
meu amor por ti.
Para de me culpar da tua vida miserável: eu nunca te disse que há algo mau
em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um
presente que eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua
alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de amigos, nos
olhos de teu filhinho. Sim, me encontrarás em um bom livro, uma poesia, uma obra
de arte e, quem sabe, em um mendigo.
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu me dirás como fazer meu trabalho?
Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito,
nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz, eu te enchi de
paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de
incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus
em ti? Como posso te castigar por ser como és, se eu sou quem te fez?
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar todos meus filhos, pelo resto da
eternidade, porque não se comportaram bem? Que tipo de Deus poderia fazer isso?
Esquece qualquer mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas afim de
manipular-te, para te controlar – que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queres para ti. A única coisa que te
peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem
um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há, aqui e agora;
isto é único de que precisas para crer em mim e receber da vida.
Eu te fiz livre, isto é, relativamente responsável. Não há prêmios nem castigos. Não
há pecados nem virtudes. Ninguém preenche um placar. Ninguém leva um registro.Tu
és condicionalmente livre para fazer de tua vida uma dádiva ou uma ameaça, um céu
ou um inferno.
Eu não te posso dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho.
Vive como se não houvesse... Como se esta fosse tua única oportunidade de existir,
de aproveitar, de amar. Assim, senão há nada, terás aproveitado da oportunidade que
te dei, sendo correto e vivendo feliz.
E se houver, tem certeza de que eu não te vou perguntar se foste comportado ou
não. Só vou te perguntar se tu gostaste: se te divertiste e do que mais gostaste?
O que aprendeste? O bem que fizeste?
Para de apelar para mim – isto é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que,
assim, acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
Sim, quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua
filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Para de me louvar! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que eu seja?
Aborreço-me quando me pedem desculpa. Canso-me quando me agradecem. Tu te
sentes grato? Basta isto.
Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre
mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo e que este mundo está cheio
de maravilhas.
Demonstra-o, cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido, admirado? Expressa tua alegria! Este é o jeito, o
único, de me louvar. Entendeste?
Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me
procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro de ti, nos outros, nas coisas e,
sobretudo, nas relações que vives. Aí é que estou, sempre estarei, abraçado contigo.

Baruch Spinoza
Filósofo
1632 –1677

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ESTAMOS SOZINHOS?