sexta-feira, 1 de julho de 2016

MORTE EM VIDA


Falando com sinceridade. Na idade em que estou, a gente começa a perder aquela sensibilidade jovial de outrora. O mundo de repente vai fenecendo o seu encanto. Os amigos vão sumindo, outros vão morrendo. Numa roda de conversa, ninguém presta muita atenção no que você fala. Coisas que antes não lhe incomodavam, agora incomodam. As pessoas começam a perder a paciência com você.
Não tenho medo da velhice. Tenho medo do mundo que ela começa a nos expor, ou seja, um mundo de lembranças boas e ruins, dando-lhe a sensação de que você não está existindo mais, é apenas um corpo cheio de recordações.
Uma vez aposentado, você se desliga do mundo e passa a cochilar o dia inteiro, vivendo mais de sonhos do que de realidade. Olha, confesso que é a pior idade e eu estou apenas no introito do seu altar.
Lembro-me do meu pai, já no fim da vida, com 94 anos, se despedindo, à sua maneira silenciosa e e bem devagarinho dos membros da família, aceitando passivamente a situação, sem reclamar de nada, com um adeus estampado nos olhos. Afim de animá-lo, cheguei até a brincar com ele para levantar o braço, ele obedeceu e sorriu, um ano depois, partiu.
Assim é a vida e eu já estou me sentindo como o cara que morreu no filme, Ghost.

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